Entrevista do Site Usina do Som( www.usinadosom.com.br )
RUSH CHEGA RELAX - Por Pedro Só - 20/11/2002

      Os cutucões que os governos de Brasil e Canadá vêm trocando desde o fim do ano 2000, a partir de conflitos de interesses comerciais nas áreas de aviação, carne e produtos agrícolas, podem estar chegando ao fim. Pelo menos é o que garantiu, com bom humor, o guitarrista Alex Lifeson, do grupo Rush. “Estamos aqui para tornar tudo melhor. Vamos construir aviões a partir de carne e resolver essa parada”, brincou o músico, ontem, em entrevista coletiva no Hotel Sheraton, em São Paulo. O trio que Lifeson integra com o baixista e cantor Geddy Lee e o baterista Neil Peart começa hoje, no estádio Olímpico, em Porto Alegre, uma histórica turnê sonhada e 
esperada pelos fãs nacionais há mais de duas décadas. “Foram ao todo dez anos de negociações”, contabilizou José Muniz Neto, da Corporación Interamericana de Entrenimiento (CIE), produtora que viabilizou o projeto, na série Kaiser Music. “É uma arte negociar com esse dólar louco do jeito que está”, completou Júlio Pedro, diretor de marketing da cervejaria que patrocina os shows no Olímpico, no Morumbi
 ( sexta-feira ) e no Maracanã ( sábado ). Sobre as protestos e preocupações de dirigentes esportivos em relação ao estado do gramado carioca para o jogo de domingo entre Fluminense e São Caetano, Alex Lifeson gozou: “Tudo bem, podemos fazer o jogo e o show ao mesmo tempo”.

        A descontração demonstrada pelo guitarrista e por Geddy Lee no encontro com a imprensa pode ser surpresa para quem conhece superficialmente o trabalho do Rush, marcado pela sobriedade em temas e postura. Mas o trio, acostumado a entrar em palco ao som do tema do seriado Os Três Patetas, sempre se mostrou mais rico e contraditório do que os preconceitos reducionistas da porção da crítica que o persegue desde os anos 80. Leia abaixo os trechos mais interessantes da entrevista e se prepare para o show, que vai ter três horas de duração e uma música especialmente (re)incluída no roteiro: "Closer to the Heart".
 
Por que vocês demoraram tanto para vir ao Brasil?
Geddy Lee: Não fomos muito espertos. Não sabíamos que tínhamos tantos fãs no Brasil. E não somos muito de excursionar mesmo, a última vez que tínhamos tocado na Europa foi há dez anos. Achamos mais importante levar uma vida normal, ficar com a família, do que estar na estrada.
 
Por que os shows duram três horas?
Alex Lifeson: Porque temos muitos discos. Nosso show não tem banda de abertura, é baseado só em nós mesmos. E, pensando nos fãs, tentamos cobrir o máximo do que já lançamos.
 
Onde está Neil Peart?
Geddy: Depois do que passou nos últimos seis anos ( perdeu a filha em um acidente de carro e, meses depois, a mulher, vítima de um câncer), Neil não se sente confortável para responder sobre fatos de sua vida pessoal em ocasiões como esta.
Alex: Mas nós dois somos muito mais interessantes [risos]
 
Vocês prepararam alguma surpresa para os shows no Brasil?
Geddy: O set list é o mesmo, mas colocamos uma música especial para o Brasil.
 
Qual?
Geddy: “Closer to the Heart”.
Alex: Tínhamos decidido não tocar mais essa música, faz 47 anos que a gente a toca... Mas em consideração aos fãs...
 
Em que disco se deu a ruptura com o estilo que vocês tinham nos anos 70 e o que vocês adotaram a partir dos anos 80: Power Windows (de 1985) ou Signals (de 1982)?
Geddy: Ninguém sabia, especialmente nós mesmos, que iríamos ter uma carreira tão longa. Acho que Moving Pictures (1981) marca o fim de um período. E Signals foi realmente o disco que mudou a arquitetura básica da banda. Power Windows foi outro passo, é a conclusão dos experimentos que já vínhamos fazendo em busca de um novo som.
 
É verdade que a banda não tinha vindo antes porque os produtores não ofereciam as condições técnicas que o padrão de qualidade sonoro dos shows do Rush exige?
Alex: Não, isso não é verdade.
 
Como foi a trajetória do Rush até desenvolver seu estilo, que é tão único?
Geddy: Quando começamos, tentávamos imitar o blues inglês de John Mayall, Cream e Jeff Beck. Depois veio o Led Zeppelin e tudo ficou mais pesado e mais alto. Depois ficamos fascinados pelo progressivo britânico: Yes, Genesis, Van der Graaf Generator. A partir daí, dessas bases, achamos o nosso estilo. E o processo nunca pára, na verdade. Até hoje, o Alex ouve muita coisa nova, da linha de frente do rock. Eu também, escuto coisas contemporâneas do Radiohead e digo “uau, que brilhante!”.

 

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